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Seg 13 de abril de 2020

Invisível e esquecido. O paciente psiquiátrico não está nas manchetes como o temido coronavírus, dominando todas as mídias. Pelo contrário, continua sem voz e excluído, frente a avalanche de informações, sejam verdadeiras ou falsas, a respeito da pandemia atual. Os especialistas, angustiados pelas previsões, congelam a atenção em projeções sobre infectados, internados e falecidos, e parecem ignorar o adoecimento psíquico. Sobram tabelas, gráficos e as famosas curvas. Porém, o que trato aqui é sobre uma reta permanente e ascendente: o aumento dos transtornos mentais.

O preconceito contra os portadores de transtornos mentais chama-se psicofobia. Ela faz parte da humanidade desde seu início, e seu fenômeno não é tão estudado como as viroses. O paciente teve sua doença, desde então, etiquetada como possessão demoníaca, castigo divino, entre outras rotulações, passando por “louco e imbecil” no censo americano de 1840, a “loucos de todo gênero” no Código Civil Brasileiro, de 1916, terminologia herdada do império. Ainda hoje, assistimos o medo, o desconhecimento, a vergonha e principalmente, o preconceito.

No próximo 12 de abril, domingo de páscoa, época de reflexões, também é o dia Nacional de Enfrentamento à Psicofobia. Pouco a comemorar e muito a combater. As políticas de saúde, em plena crista da onda, esqueceram do paciente psiquiátrico mais uma vez, com fechamento de serviços, e falta de planejamento específico para este público, em um país de cerca de 2 milhões de esquizofrênicos, muitos sem atendimento, vulneráveis pelo comportamento e higiene prejudicada. Enquanto faltam recursos neste setor, abundam outros aspectos não distantes da Psiquiatria, como a inveja e o narcisismo, evidentes entre a classe política, em meio a desgraça da população.

A criminosa desassistência promovida pelas autoridades mostra e confirma a sentença que cai sobre os que padecem da alma: não adoecem do corpo, não se contaminam, estão à margem em todos os sentidos. O tal colapso nós já conhecemos. O Brasil, país mais ansioso do mundo segundo a OMS, sofre diariamente com os quadros graves, as complicações e os suicídios.

Nós psiquiatras lavamos as mãos, no bom sentido, é claro. Também estamos na batalha.

Natal/RN, 10/04/2020

Gustavo Xavier

Médico Psiquiatra

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