Natal, 20 de outubro de 2017 11H46
Para os que vieram do século passado, a proximidade da passagem para o novo século gerava enormes expectativas. Uma delas era o chamado “bug do milênio”, situação hipotética na qual os computadores entrariam em colapso porque não estavam preparados para processar a data correta e voltariam ao ano de 1900, gerando um caos nas comunicações, tráfego aéreo e o risco de explosões em usinas nucleares. Nada de grave aconteceu e a humanidade ultrapassou essa anunciada tragédia cronológica sem maiores repercussões.
Passados mais de uma década e meia no novo século, estamos vivenciando uma enorme revolução tecnológica em todos os níveis e em especial na comunicação humana, promovendo uma “conectividade” impensável no final do século passado. O mais impressionante é a velocidade com que essas inovações vão tomando conta dos nossos espaços, modificando nossos hábitos, trazendo soluções e, por que não dizer, novos problemas para serem solucionados.
A Medicina sempre esteve ao lado da inovação, que nem sempre foi tecnológica e de alto custo. A invenção que mais salvou vidas, classificada por muitos como a principal descoberta do século passado, foi a determinação das medidas certas de água, sal e açúcar na preparação do soro caseiro. Estima-se que essa “mistura” criada pelo médico austríaco Norbert Hirschhorn, possa ter salvado mais de 50 milhões de vidas humanas, acometidas de desidratação aguda.
Há uma grande expectativa relacionada à repercussão que a inovação tecnológica trará a prática médica e ao cuidado da saúde humana nas próximas décadas. A ciência se debruça em temas como órgãos artificiais, edição de genes, medicina regenerativa através de células tronco, análise matemática de gigantescos bancos de dados através de inteligência artificial, internet da saúde com seus mais variados aplicativos e aperfeiçoamento do arsenal tecnológico já disponível para diagnóstico e tratamento das doenças. Assim como ocorreu com a comunicação, teremos velozes modificações nesses campos de atuação e devemos nos preparar para assimilar essas inovações, sem negligenciar os princípios da ética e da bioética. O médico continuará sendo o elo entre a evolução da medicina e o seu paciente.
Por outro lado, nosso tempo histórico não acompanha o tempo cronológico das inovações. Ainda praticamos medicina do século passado. São exemplos dessa afirmação os cuidados com o paciente crítico e com os portadores de Acidente Vascular Cerebral na fase aguda, que já apresentam diretrizes consagradas desde o século passado e, no entanto, em especial no serviço público, ainda enfrentamos enormes dificuldades para alocar nossos pacientes em ambientes adequados e aplicar os protocolos que salvam vidas e minimizam a gravidade. O tempo histórico dos hospitais da rede pública é diferente do tempo dos hospitais da rede privada, separados por poucos quilômetros de distância. O médico vive a dicotomia de atender pacientes com a mesma doença sendo diagnosticados e tratados de formas distintas, com facilidades no serviço privado e enormes dificuldades no serviço público, ocorrendo de forma simultânea. Precisamos entrar definitivamente no século 21, criando mecanismos para que os benefícios das inovações contemplem a todos.
Dia 18 de outubro, o dia do médico, será comemorado pelas entidades médicas durante toda semana com a realização de eventos científicos, culturais, sociais e de reconhecimento aos bons serviços prestados por profissionais dedicados e destacados. Também será um momento de reflexão em busca de soluções para os graves problemas que enfrentamos, dentre eles essa distorção temporal na assistência aos nossos pacientes, motivo maior da nossa existência profissional.

Marcos Lima de Freitas
Presidente do Conselho Regional de Medicina do RN – CREMERN

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