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UM NOVO TEMPO RECHEADO DE VELHOS PROBLEMAS
O mundo muda mais rápido no tempo de hoje e é notório que mudanças biotecnológicas e sociais que ocorriam em séculos agora podem ocorrer em meses. No Conselho de Regional de Medicina do Rio Grande do Norte não foi diferente, mudanças administrativas importantes surgiram a partir da gestão do Dr. Luís Eduardo, até então o presidente mais jovem da história dessa Autarquia Federal.
Entretanto, o Dr. Luís Eduardo, expressando seu pensamento aguçado de democracia, decidiu que mesmo com o apoio da maioria dos conselheiros não deveria continuar, indicando-me para sucedê-lo na presidência de nosso Conselho.
Diante de tantos desafios da saúde brasileira, que ainda estar construindo o maior sistema de saúde pública do mundo, de gestores inertes em face de orçamentos reduzidos e do caos quase generalizado da saúde de nosso estado, assumi a presidência do CRM com a responsabilidade de aproximar ainda mais o Conselho dos médicos e de fazer valer a máxima “educar para não punir”.
Essa postura do CRM é uma tentativa de resgatar os valores éticos no exercício da profissão e servir à sociedade como proteção contra a prática de uma medicina de baixa qualidade, porque vivemos um momento de perda de valores nesse sentido. São as condições insalubres de trabalho, as denúncias das péssimas condições de trabalho e ainda as relações conflituosas dos profissionais médicos em suas relações com a indústria de materiais e medicamentos, a mercantilização ilegal da profissão através de cartões de desconto e de fidelidade, uma saúde suplementar de reajustes e repasses pífios, além do desgaste da relação médico paciente.
Urge resgatarmos a medicina da condição de categoria para o status de uma classe de profissionais, cujo ofício maior é salvar vidas e aliviar sofrimentos. É imperioso não apenas oferecermos condições adequadas de trabalho, como também remuneração digna e compatível com as responsabilidades emanadas da prática médica e não é possível olvidarmos a crescente judicialização da saúde.
O alcance desses objetivos somente será possível com a união dos médicos potiguares em torno de um novo padrão de cidadania e cada um fazendo a sua parte. Dessa presidência, prometo empenhar todas as energias nesse propósito confiado-me pelos meus pares, pois não se enganem que na experiência de docente logo percebi que: “O amor à nossa profissão médica deve ser ensinado desde o primeiro dia de aula. Caso contrário, os futuros profissionais não terão condições de perceber a grandeza de ser médico”.

 

A BANALIZAÇAO DO MAL NA SAUDE

 

 

Diante do descaso com a saúde pública do estado, lembrei-me que há algum tempo tive a oportunidade de ler “Eichmann em Jerusalém: Um relato sobre a banalidade do mal” da alemã, naturalizada americana, Hanna Arendt. Essa cientista política, na tentativa de compreender a história ocidental da primeira metada do século XX, estudou profundamente os regimes totalitários da Europa, com especial ênfase ao nazismo e ao Stalinismo.

Atuando como repórter da revista americana New Yorker, ela foi enviada a Jerusalém no ano de 1961, para cobrir o julgamento de Adolf Eichmann, nazista capturado em Buenos Aires e levado a Israel para julgamento acusado de crimes contra o povo judeu e contra a humanidade.

Analisando detalhadamente a personalidade de Eichmann, Harendt não encontrou nele nenhuma característica anti-semita, nem muito menos um comportamento compatível com um “monstro” ou um doente, ao contrário, parecia estar diante de um homem normal. Era apenas um burocrata cumprindo ordens sem meditar em suas consequências, sua única aspiração era a sua ascensão profissional, desprovido do sentimento do bem ou do mal.

A partir desse contexto Arendt cunhou a expressão “Banalização do mal” para designar aquelas pessoas que agem dentro das regras do sistema a que pertencem sem racionalizar seus atos, e diante dessa complexidade humana chamou atenção para os “atos de banalização do mal” para evitarmos a sua ocorrência em sociedades muitas vezes adormecidas no seu senso crítico.

Reservada as devidas proporções, percebi que o que ocorria no nosso maior hospital de urgências e emergências era uma banalização do mal, passou a ficar “normal” e não mais incomodar as pessoas que alguém pudesse morrer por falta de vaga em UTI, ou amputar uma perna porque não tinha antibiótico para combater a infecção do paciente diabético, crianças que morrem também por falta de vaga em uma UTI, pacientes graves que ficam em cadeiras nos corredores fétidos pela superpopulação. São pessoas que pagam impostos e que têm direito a um atendimento digno no SUS. Não podemos aceitar a desculpa desumana e desastrosa que recebi outro dia de um burocrata, ao afirmar que ninguém poderia garantir que esses pacientes sobreviveriam se tivessem disponíveis todo o aparato terapêutico, ora, no mínimo esses paciente perderam a chance da cura, que os juristas franceses chamam de “Perde d’une chance”, retiram desses pacientes a oportunidade de serem tratados adequadamente.

Os gestores se explicam dizendo que não existe dinheiro para isso ou para aquilo, que a culpa é dos médicos que não cumprem a sua carga horária, esquecendo que a saúde pública e a educação são o mínimo existencial.

A sociedade precisa despertar e reagir a essa banalização do mal na saúde, o famoso episódio do “fio de aço” foi apenas o primeiro grito de indignação, não devemos perder essa capacidade de protestar contra a banalização do mal, e lembrarmos que quando morre um homem a humanidade fica menor, se olvidarmos isso nos tornaremos todos um pouco de Eichmann.

 

 

 

Dr. Jeancarlo Fernandes Cavalcante

Médico – Cirurgião Torácico

Mestre e Doutor em Ciências da Saúde

Presidente do CRM – RN.

 

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