Desde a segunda metade do século XVIII a humanidade tem passado por momentos considerados divisores de águas que impactam diretamente no seu cotidiano. As mudanças de paradigmas que foram trazidas por esses momentos produziam incertezas e resistências até que as transformações demonstravam seus benefícios e eram naturalmente incorporadas. Assim o homem assimilou as três primeiras revoluções industriais que trouxeram avanços nos processos de produção tão necessários para acompanhar o aumento das demandas.

A quarta revolução industrial ou “indústria 4.0” está sendo considerada a de maior complexidade com impacto profundo na vida de cada um de nós. É previsto que será a mais duradoura e transformadora de práticas e conceitos. Se fizermos uma analogia com fenômenos naturais, estamos no interior de uma onda com dimensões de um “tsunami” quando comparada com as “ondas” anteriores.

Quais os impactos que essas transformações estão trazendo para a medicina? Como será o exercício da medicina no futuro próximo? O cuidado com a saúde tem sido o alvo principal da “indústria 4.0”. Apresenta um número de resultados nos sítios de pesquisa superior ao da comunicação. Portanto, teremos grandes mudanças no exercício da medicina e dentro de um curto espaço de tempo.

Há um conjunto de tecnologias em escala global que permitirão a união entre o mundo físico, biológico e digital. A internet das coisas, a biologia sintética e a chamada inteligência artificial serão as que trarão maiores impactos no exercício da medicina. A inteligência artificial se utilizará de gigantescos bancos de dados para executar diagnósticos e tratamentos numa velocidade superior a dos médicos mais experimentados. A biologia molecular trará avanços no diagnóstico e tratamento das enfermidades. A internet das coisas trará múltiplos aplicativos e sistemas capazes de monitorar as pessoas em qualquer ambiente com informações que serão utilizadas para o diagnóstico, acompanhamento e tratamento. O amplo acesso à comunicação facilitará o acesso à saúde.

As inovações trazem soluções e novos problemas que devem ser analisados e sanados. Historicamente, os benefícios superam os problemas e as boas inovações vão sendo incorporadas. É papel da medicina e daqueles que a exercem analisar e regulamentar as inovações propostas. Essa análise e regulamentação deverão ter como objetivos primordiais a melhor assistência ao paciente e o bom exercício da profissão, sem olvidar dos princípios fundamentais da bioética que pregam a autonomia, a beneficência e não maleficência.

Em meio a toda essa avalanche de novidades tecnológicas há uma condição que não faz parte da atual revolução industrial e possivelmente será muito difícil de ser suplantada pelas próximas. Refiro-me à inteligência emocional humana, com sua flexibilidade cognitiva, criatividade, pensamento crítico, capacidade de negociação, poder de liderança e de julgamento. A relação do médico com o seu paciente está no patamar das relações mais complexas e que exige um alto grau de conhecimento, compromisso e responsabilidade. O médico será sempre o elo de confiança entre os seus pacientes e as inovações. O bom médico do futuro não será apenas aquele que se aproxime da rapidez diagnóstica de um robô. O bom médico do futuro será aquele que, além de detentor do conhecimento técnico, seja capaz de conduzir com maestria a sua inteligência emocional em favor do bem estar do seu paciente e da boa prática da medicina. Esse importante conceito que vem do passado poderá ser o grande diferencial no futuro.

Marcos Lima de Freitas

Médico, Presidente do CREMERN.

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