Na última semana, a Medicina foi surpreendida com publicações que maculam sua imagem e desvalorizam a figura do médico na tentativa de responsabilizá-lo pelas mazelas da saúde. A revista “Superinteressante” publicou uma matéria de capa intitulada “Erro médico” na sua edição nº 391, no final de junho. O conteúdo da matéria baseou-se em suposições e estimativas, expondo dados que são considerados pelos próprios autores como limitados. Não há clareza científica nos seus resultados. A profundeza da matéria não foi fiel ao sensacionalismo do seu título.

A capa mostra um estetoscópio, importante instrumento utilizado pelo médico para ausculta dos seus pacientes, transformado numa serpente naja, animal peçonhento, agressivo e perigoso. Informam que o “erro médico é mais comum do que se imagina”, sendo a maior causa de morte no Brasil. Tal afirmativa cria no imaginário coletivo a percepção equivocada de que os médicos e a Medicina, através dos seus “erros”, sãos os principais responsáveis pela mortalidade da população brasileira. Esse tipo de sensacionalismo gera insegurança na relação médico-paciente e pânico na sociedade.

Erro médico é um tema sério e deve ser tratado com responsabilidade. Define-se como a conduta profissional inadequada ocasionada pela inobservância de cuidados técnicos que seja capaz de produzir um dano à vida ou à saúde do paciente, podendo ocorrer como consequência de imperícia, imprudência ou negligência. Por outro lado, a Medicina é a única profissão que carrega um termo próprio para definir os erros dos profissionais que a exercem. Nesse termo estão erroneamente inseridas as falhas cometidas por outros profissionais, pelas instituições, pelos gestores e pelos que têm o poder de tomar decisões e as tomam de forma desacertada, levando em consideração princípios exclusivamente políticos/ideológicos.

Considerando que parte desses erros não ocorre em consequência da atuação médica, esse termo é falho e deveria ser corrigido, especificando cada responsável, em respeito à semântica linguística. Contudo, se faz necessário diferenciar o erro médico do mal resultado que pode ser consequência de diversos fatores como a própria doença, os fatores intrínsecos do paciente, a complexidade dos procedimentos realizados, a falta dos meios adequados, entre outros.

O médico deve utilizar todos os meios ao seu alcance para amenizar o sofrimento e até curar quando possível. Não se exerce a Medicina com o objetivo de atingir um fim. Este ocorrerá como consequência dos meios adequados utilizados, associado a outros fatores que independem da ação do médico.Pesquisas seriadas têm demonstrado que o principal problema enfrentado pela população brasileira é a saúde, estando acima da corrupção e outros temas relevantes. As mesmas pesquisas demonstraram que o médico goza de credibilidade e confiança por parte da população.

O brasileiro é testemunha das jornadas extenuantes de trabalho as quais o médico se submete e das péssimas condições oferecidas para que exerçam sua profissão. Sabe que pode contar com a presença do médico nas situações de urgência e emergência. Reconhece a importância dos conhecimentos e atuação médica no aumento da expectativa de vida da população. Seguramente não aprova a abertura indiscriminada de escolas médicas com qualidade de ensino duvidosa. A sociedade quer médicos brasileiros valorizados, bem formados e com disponibilidade dos meios adequados para oferecer uma boa assistência. Esta é a receita para prevenir significativamente o “erro médico”.

Localmente, no dia 26 de junho passado a Prefeitura de Parnamirim publicou edital de convocação para concurso público na área da saúde, anunciando um salário para médicos especialistas de R$ 1.232,48 (hum mil, duzentos e trinta e dois reais e quarente a oito centavos). Há pouco mais de um mês a mesma Prefeitura desabasteceu duas importantes unidades de atendimento de urgência e emergência do município, que foram reabastecidas por decisão judicial através de Ação Civil Pública ajuizada pelo CREMERN. Aos médicos cabe a reflexão de não atenderem a editais que afrontem a boa prática da profissão.

Marcos Lima de Feitas
Médico Neurologista e Presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Norte – CREMERN
CRM 2396 – RQE 1236.

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