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Conselho Regional de Medicina

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Natal, 31 de julho de 2017
Marcos Lima de Freitas – Presidente do CREMERN

Impressionante a diferença entre o ouvir falar e a constatação dos fatos de forma presencial, utilizando os sentidos e as nossas capacidades cognitivas. A análise final pode ser bem diferente ou apenas confirmar e até agravar o que se ouviu falar.

A saúde pública é um problema crônico do nosso país. Em pesquisa realizada pelo Instituto Data Folha a pedido do Conselho Federal de Medicina no final do ano passado, 37% dos pesquisados consideraram a saúde como o principal problema enfrentado pelos brasileiros. A corrupção ficou em segundo lugar com 18%. Portanto o brasileiro é ciente da degeneração do serviço público de saúde em todo país, que piorou progressivamente ao longo das últimas décadas sem perspectivas de soluções. A saúde pública é tratada como um instrumento de uso político, não havendo uma política de Estado sobre o tema. A realidade dos fatos demonstra claramente que se trata de um ponto nevrálgico de qualquer governo. Sendo assim, deveria ser tratada de forma técnica, envolvendo os profissionais da linha de frente, com uma força tarefa isenta de vieses ideológicos e de política partidária, sem conflitos de interesse e com a transparência que o cuidado com a coisa pública exige.
No dia 19 de julho passado, tive a oportunidade de participar de uma audiência, solicitada pela autarquia Conselho Federal de Medicina e Conselhos Regionais com o Ministro da Saúde, Ricardo Barros, Engenheiro Civil de formação, empresário, autointitulado gestor, mas que na prática atua na política partidária desde o século passado. Por “méritos” políticos, foi alçado ao presente cargo, onde parece ter caído de paraquedas por reconhecer durante a audiência, ser um desconhecedor do tema e que por isso tem buscado auxílio nas entidades de saúde. O discurso da humildade seria louvável se as entidades que o auxiliam fossem verdadeiramente ouvidas, o que na prática não tem acontecido. Aristóteles já dizia na Grécia antiga que “Nós somos o que fazemos repetidas vezes. Portanto, a excelência não é um ato, mas um hábito.”. Como podemos aceitar que alguém caia de paraquedas para solucionar uma grave crise. Importante salientar que ele não foi o único a cair de paraquedas na pasta da saúde e provavelmente esse tenha sido um dos fatores preponderantes para as decisões equivocadas tomadas ao longo dos últimos anos.
Entregamos ao Ministro um manifesto no qual a autarquia se posiciona ao lado da população e dos médicos brasileiros em defesa da saúde pública e alerta que utilizará de suas prerrogativas judiciais e extrajudiciais na defesa dessa nobre causa. Foram anexados relatórios de fiscalizações e relatos das situações encontradas em todos os estados da federação, somando mais de 15 mil páginas
A apresentação feita pelo Ministro foi surpreendente em vários aspectos. Baseou-se em estatísticas e números matemáticos direcionados a interesses não revelados, mas claramente decodificados pela plateia que o assistia, formada por conselheiros médicos de todo país. Tais dados se adequam a Engenharia, ciência exata, mas são pouco eficazes na área da saúde. Afirmou que o problema da saúde primária está relacionado à baixa produtividade dos profissionais e esqueceu que este item não depende apenas da atuação do profissional, mas também de estrutura adequada. Afirmou que a solução do problema será investir em equipamentos de controle de presença dos profissionais e na informatização de toda assistência primária do país.
Ele acredita em soluções tecnológicas de alto custo em detrimento de soluções de menor custo e maior eficácia como a estruturação dessas unidades de saúde. Algumas sem pia para lavar as mãos, outras sem banheiros, muitas sem local adequado para a realização do ato médico, umas quantas sem equipamentos básicos de assistência como termômetros, estetoscópio, medicamentos e outros, além de locais insalubres e impróprios para a presença humana. Teremos tecnologia de ponta na atividade meio, mas seguiremos em falta com a atividade fim que é a assistência aos nossos pacientes. A expectativa foi pior daquela do ouvir falar.
Para resumir tentarei utilizar a linguagem da Engenharia Civil, apesar de não ser conhecedor técnico dessa profissão de enorme importância e credibilidade na sociedade, mas permitam-me afirmar o que qualquer ajudante de pedreiro saberia interpretar que é impossível colocar as telhas se não há tijolos.
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